Featured Gallery - agosto 2023 - setembro 2023
Curator: Micaela Cyrino
Featured Artists: L'Orangelis Thomas Negrón, M Gordon, Frederick Weston, Joyce McDonald, Brontez Purnell, Barton Lidice Beneš, Anthony Sinclair, Alan Walker, Leonilson, Jorge Veras, Kia LaBeija, Sidiosa Camila Arce, Ms. Colombia, Gordon Kurtti, Juan Rivera, Micaela Cyrino, Miguel Alvarez, XICA (Justine Xica Paratore)
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Encontrei na espiritualidade e na arte o equilíbrio para planejar o envelhecer com leveza, respirar e viver cada dia de uma vez.
A demanda da cura é exaustiva, porém somos “bando” e a responsabilidade das mortes sociais deve ser coletiva.
Quando a possibilidade de caminhada é negada, remontar caminhos é uma necessidade constante, assim como remontar as linhas do tempo que atravessam o fazer e as vivências corporais negras. Romper com essa linha, na conjuntura em que estamos postas, se expressa como fato de que a arte, por meios que nem sempre são próprios, é incapaz de interromper as coordenadas sensoriais com que entendemos, habitamos e vivenciamos o mundo.
Talvez se encontre na esfera da disponibilidade as primeiras razões para esta prática ser iniciada. Repensar outros processos de reorganização do ódio e das dores.
Portanto, esta se estende como uma técnica, um treino para se realizar arte, que seria, neste caso, o encontro através do diálogo. Talvez na arte encontremos caminhos para a cura social da Aid$. Enquanto aguardamos a cura biológica.
O diálogo livre das artes propõe que o espectador crie sua própria narrativa, assim não fica na função das pessoas soropositivas resolver os estigmas da Aids e sim de cada pessoa com sua consciência ter a responsabilidade de tratar como uma questão coletiva, portanto de resoluções coletivas.
A epidemia de Aid$ funciona ativamente como um dos viés do genocidio da população negra e indigena, impossibilitando que esses indivíduos vivenciam a saúde plena e a qualidade de vida. São negadas ações de informação, acesso à prevenção e tratamento.
Aqui, o exercício artístico é o da conversa, uma mescla de composições que se reinventam durante um fazer em comum. Quais movimentos se cruzam com os dados que temos sobre a epidemia e as políticas públicas, portanto se a morte em decorrência da AIDS é evitável, na conta de quem ficam as mortes dessas populações?
Juntar-se à arte torna-se não só uma forma de cabeamento que conecta a vida remontando à morte, mas torna-se também uma forma de revelar paradigmas de sociabilidade que põe o tempo inteiro produções negras em posição de questionamento. O que escancara que até a arte se afirma como meio privilegiado de expressão, apreensão, compreensão e simultânea reinvenção da realidade.
Portanto, nessa exposição talvez se encontre uma das várias técnicas da remontagem desses cabeamentos que reconfiguram os processos de organização de dores, de expressões e compreensões da vida que rompem com a ideia privilegiada de ser artista. Como corpos negros queremos conseguir fazer, sempre que for do nosso desejo, uma busca e ruptura com nossas dores e mortes, até porque aprendemos com nossos ancestrais que, diferente do que muitos pensam, o contrário da vida não é a morte, mas desencanto.
Trago artistas que de alguma maneira abordam em seus trabalhos o desejo pela vida e a manutenção para permanecer nela.
Curated By: Micaela Cyrino
Micaela Cyrino, 35 anos, nascida em São Paulo- Brasil, graduada em Artes Visuais, produtora cultural e ativista pela saúde sexual e reprodutiva da população negra e HIV/Aids.
Nascida com HIV no início da epidemia, hoje em seus trabalhos artísticos - pintura, performance e intervenções- aborda corpo negro positivo e seus atravessamentos.
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Micaela Cyrino, 35 years old, born in São Paulo, Brazil, graduated in Visual Arts, cultural producer and activist for the sexual and reproductive health of the black population and HIV/AIDS patients.
Born with HIV at the beginning of the epidemic, today her artistic work – which includes painting, performance and interventions – addresses the positive black body and the influences that pervade it.